Queria poder dizer que não sinto falta daqueles que chegaram e escolheram partir; queria poder dizer que não lamento que tenham ido; queria poder dizer que não penso neles e em como teria sido caso tivessem escolhido ficar; queria poder dizer que tudo não passou de um engano, que na verdade eles continuam comigo. Mas não posso! Infelizmente pessoas que amei conhecer, com quem dividi mais que momentos e boas conversas, pessoas com quem compartilhei o melhor de mim, com quem fui sincera, com quem fui inteira, a quem me dediquei, escolheram ir embora.
Sinto uma falta imensa destes, suspeito que continuarei sentindo por um longo período, até que a saudade diminua, até que talvez ela deixe de ser sentida e tudo que fique seja uma boa lembrança. Lembrança de bons momentos, lembrança de doces sorrisos, lembrança de corações cheios, lembrança da coragem que tive de ser e deixar o outro livre mesmo que isso significasse hoje sentir saudade. Sei o quanto eu sinto a falta destes, sei o quanto levaram de mim, mas sei que quem escolheu partir, também partiu sem um pedaço, partiu levando no lugar em que antes eu ocupava, um buraco. Buraco porque sei que fui inteira, sei que fui plena, sei que me entreguei, vivi e senti mesmo com medo de ter que vir a encarar uma “despedida”, e por isso sei que preenchi, sei que transbordei. Sei que fui o melhor de mim, sei que fui sincera, sei que fui eu mesma, sei que fui amor, sei que fui alegria, sei que fui tudo que podia ser. E sei que continuo sendo, e continuarei independente de quantas vezes ainda for obrigada a ver pessoas chegando e partindo.
Mas é isso que acontece com aqueles que chegam incompletos, no começo há uma euforia, a alegria de se sentir preenchidos. Mas ninguém pode preencher ninguém, ou você é completo e encontra quem te transborde ou você procura quem te complete, e no máximo vai achar que encontrou, mas vai só achar mesmo, e quando achar vai até se sentir satisfeito por um tempo, mas logo vai voltar a sentir que lhe falta alguma coisa. E lhe falta mesmo, lhe falta algo importante, algo essencial, lhe falta você mesmo. Porque como eu disse, ninguém completa ninguém.
Quem chega inteiro, quando chega e se vê transbordante, sabe valorizar sua companhia, percebe a raridade que é encontrar alguém completo e te faz transbordar também, te faz bem, deixa as coisas leve, quer te ver crescer e te incentiva, te multiplica, te soma… Quem chega incompleto, espera sempre mais de você, te sobrecarrega, deposita expectativas em você que não corresponde nem a própria realidade, te exige, te sufoca, te suga. Então, por maior que seja a saudade, por mais triste que seja, agradeço pelos incompletos que se foram, desejo que estes saibam que só eles podem se completar, que entendam que só eles podem corresponder as próprias expectativas.
Agradeço por ter sido inteira, por não ter esperado dos outros mais do que eles poderiam me oferecer, agradeço por saber quem sou e o quanto valho e por não ter me submetido as exigências de quem chegava como se eu precisasse mudar por eles. Agradeço pelos incompletos que passaram por minha vida, pois com eles aprendi a valorizar a completude, a não achar que poderia encontrar a minha “metade da laranja”, com eles aprendi a não julgar quem ainda não se percebeu como um inteiro mas incentiva-los a se conhecerem, com eles aprendi a valorizar as pessoas completas que me chegam e a ser grata por terem me escolhido mesmo não precisando de mim.
Com os completos, aprendi a me buscar, me conhecer, saber meus limites, me respeitar, me amar, a ser autêntica, respeitar o próximo e suas limitações, a fazer da felicidade meu estado de espírito, ser plena e alegre independente das circunstâncias. Sou grata por ter conhecido os dois lados da moeda, mas eu sei muito bem quem quero manter por perto e de quem quero manter distância, sei bem quem eu quero ser e o que eu não quero ser. E você? Tem procurado se completar ou esperado sua outra metade? Tem buscado ser inteiro ou depositado suas expectativas em outra pessoa?